sexta-feira, 10 de abril de 2009

Me visitem na cadeia !!



Me visitem na cadeia!!!

Passei uns dias fora, sem ler jornais ou ver televisão.

Deve ter sido esse afastamento fulgaz das notícias
a razão por que, ao voltar ao convívio delas,
tomei um susto.

Bastaram esses dias para minha perspectiva se
apurar, por assim dizer, e eu sentir em cheio a
assombrosa desvergonha a que chegaram o
Brasil e suas instituições.

Com perdão da má pergunta, que país é este,
meu Deus do céu???

Resolvi tomar a liberdade de dizer o que me
parece no momento, sem eufemismo ou
ressalvazinhas bestas, embora é claro, me
arrisque bastante.

Posso ter o meu sigilo bancário aberto
- O QUE CERTAMENTE PROVOCARIA FROUXOS
DE RISOS NOS BISBILHOTEIROS - ,
assim como qualquer outro sigilo, pois o governo
demonstrou que não merece confiança e é destituído
de escrúpulos.

Portanto, nenhum dos nossos dados a que é garantida
confidencialidade está seguro.

Ou de repente escarafuncham meu passado e
descobrem um contemporâneo capaz de jurar
que colei numa prova de latim no ginásio e
portanto passei fraudulentamente, o que será
considerado crime hediondo por algum tribunal
desses Executivos, que por aí abundam.

Finalmente, como não empregarei eufemismos,
não é impossível que me acusem de calúnia,
difamação ou injúria e eu venha a ser condenado
pelo que se considerará um ou mais crimes,
apesar de que, no meu parecer, se trataria de
delito de opinião, figura que não existe, mas que
pode perfeitamente ser posta em prática, sob
nomes artísticos que lhe emprestem a
aparência de legitimidade.

Começo, não sem certo enfado, a dizer o que
penso do Executivo, na figura do nosso presidente.

Sua conduta me tem transmitido a impressão de
que ele é enganador, cara-de-pau, evasivo,
fanfarrão, oportunista, ardiloso, demagogo
e cínico o suficiente para encarar com desplante
todo mundo saber que ele é candidato mas se
aproveita de brechas da lei, para fazer campanha
as custas do erário e não raro enganosamente.

Acho que só é de fato sincero quando se apresenta
como o melhor presidente que "este país" já teve,
pois o movem as certezas absolutas que a ignorância
não costuma suscitar.

O povo é engabelado por cestas e bolsas mil,
enquanto as reformas que efetivamente o
redimiriam não vêm e tudo indica que não virão.

Tampouco tenho - ADMITO QUE MUITO
SUBJETIVAMENTE - boa impressão do caráter
de Sua Excelência e da sua propalada fidelidade
aos amigos, diante da gana de grudar no poder.

Estendo-me, com igual ou maior enfado, ao
Congresso e em particular a Câmara.

Fazendo as exceções que com certeza são
em menor número do que a gente esperançosamente
pensa, na minha opinião o Congresso abriga
elevada população de faltos de hombridade,
larápios, carreiristas, mentirosos, venais, descarados,
aproveitadores e membros da futura escola de samba
UNIDOS DO DEBOCHE.

Tal a desfaçatez com que perderam o senso dos
limites e da compostura e acham que podem fazer
qualquer coisa, inclusive transformar a Câmara
em Gafieira.

Coberto de privilégios incogitáveis em qualquer país
civilizado, os deputados quase não trabalham, mas
foram de partido em partido em busca de vantagens
pessoais e agora só faltam dizer-nos que comamos
brioche ou que os incomodados que se mudem.

Continuarão a desrespeitar e aviltar o pouco que
nos deixaram de dignidade e a protagonizar o que
poderia ser chamado de Chanchada ou Ópera Bufa,
se isto não insultasse essas duas categorias artísticas.

Minha opinião sobre o Judiciário é que o número de
Juízes desidiosos ou venais é imenso, o povo não
tem confiança na Justiça e ela própria muitas vezes
parece não alimentar respeito por si mesma.

Não consigo imaginar um juiz da Suprema Corte
americana, que inspirou a criação do nosso
Supremo Tribunal Federal, distribuindo
entrevistinhas a torto e a direito.

Tenho certeza de que estaria ameaçado de
impeachment o magistrado da Suprema
Corte que fosse cumprimentar um advogado
de defesa que ganhou uma causa na qual esse
mesmo juiz atuou.

A Suprema Corte é sagrada,
como devia ser o nosso Supremo.

Mas, ainda na minha modesta opinião,
o Supremo se tem abastardado em inúmeras
ocasiões e nunca sua imagem foi tão vulgar
e deslustrada.

A corrupção está em toda parte, da gasolina
adulterada ao peso roubado nos produtos embalados,
aos remédios falsificados, aos atestados forjados,
às instituições de caridade trapaceiras e a tudo mais
que nos rodeia, onde sempre suspeitamos da existência
de uma mutreta, pois a mutreta é o nosso modus
operandi trivial.

Havendo assim expressado com franqueza minhas opiniões,
no que julgo ser o exercício de um direito, mais que
constitucional, é direito humano basilar ( sou jusnaturalista
da velha guarda, colegas bacharéis), estou disposto a
enfrentar as conseqüências a porventura advirem
do que acabo de escrever.

Se me processarem e prenderem, espero que o
dr. Fernando Henrique, que processado está sendo,
também acabe preso.

Achei meu diplona em Itaparica e tenho a mesma
famosa prerrogativa de cárcere especial.

Mas receio que, numa insolita confluência
de posições ambos peçamos selas separadas.

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João Ubaldo de Oliveira
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