Perna curta e desobediência
Nossos antepassados nos diziam sempre que “quem mente perde os dente” (eles deixavam de lado a concordância para bem da rima). Outros preferiam medidas mais drásticas: aplicavam castigos, chineladas ou verdadeiras sumantas, quando não ruidosas e doloridas tundas em caso de mentira descoberta (é a primeira vez que escrevo “sumanta” e “tunda”).
Mentir é sempre um ato associado a outro, geralmente contravencional, ilícito ou até mesmo, em alguns casos, criminoso. Quando o sujeito deflagra uma mentira, ela está sempre acompanhada de um ato passado ou futuro que a consagra e, não raramente, a revela. O dito que a mentira tem perna curta é muito verdadeiro porque mentir está ligado a algo irreal, que não se sustenta nem convence de modo permanente no tempo e no espaço.
Uma criança que mente ao delatar o irmão, tendo-o feito por algo pelo qual ele é o verdadeiro responsável, leva à associação imediata aos atos decorrentes, seja a simples quebra de um vaso, o sumiço de um dinheiro guardado ou de um mero puxão no rabo do gato. “Foi ele”, denuncia com os cantos da boca sujos o pequeno e desavisado pinóquio, ao imputar ao irmão de apenas 9 meses a culpa pelo desaparecimento de uma barra de chocolate inteira, que estava muito longe do alcance do suposto autor do delito, que nem caminhar ainda sabe.
O tempo passa e os sujeitos continuam mentindo. Mentindo para suas esposas, seus maridos, seus sócios, seus eleitores. Com o tempo, entretanto e tristemente, as coisas vão perdendo a inocência e a graça. E o que é pior: com a instituição da mentira como fato corriqueiro e natural, a sociedade corre riscos que não tem idéia de sua gravidade.
Mentir, roubar, voltar a mentir, voltar a roubar, é uma síntese que hoje assola o topo da pirâmide social, que é representada e protagonizada pelas lideranças públicas que ocupam as páginas de jornais e revistas, de telejornais e correspondentes radiofônicos.
O mensalão é o maior exemplo dessa síntese: Compra-se um voto mentiroso para se votar favoravelmente uma medida provisória; vende-se um voto mentiroso hoje, outro amanhã, outro depois. Em seguida, compra-se um “lote” de mentirosos e mais votos mentirosos por um valor mais em conta e a dança prossegue, na cadência da mentira, no ritmo da malandragem, à luz de um cabaré desavergonhado que se tornou o poder no Brasil.
Acha ruim? Então imagine agora o seguinte: a mentira, dita pelo topo, autoriza, morro abaixo, outras mentiras e mentirosos, que “justificam” outras mentiras e mentirosos e assim por diante, rumo à base, neste caso, rumo à toda a população de um país.
Se o ministro mente, mente e mente, então eu também posso mentir. Se o presidente absolve seus companheiros safados porque “errar é humano”, então certamente todos os demais ladrões do país estão desculpados por seus mesmos erros humanos.
A partir daí começamos a entender porque o preço do álcool sobe, por exemplo. Porque o poder que tem que negociar com os usineiros é o mesmo envolvido em dezenas de escândalos quase ou totalmente comprovados diante da opinião pública nacional e até mesmo internacional. O usineiro aumenta o preço do álcool porque o governo não tem nenhuma moral para fazer com que se mantenham os contratos ou acordos anteriores. Afinal, se eles mentem e roubam e ficam onde estão, porque eu não vou aumentar os meus preços?
Fica mais fácil entender a disseminação da corrupção no Brasil. O PT transformou a corrupção em uma chinelagem sem precedentes. Todos estão autorizados a roubar e a mentir no país. Se o filho do presidente pode faturar R$ 15 milhões de uma empresa cujo maior acionista é o estado, então o meu filho também pode; se o amigo do presidente pode pagar suas dívidas, então amigos meus também podem pagar as minhas; se o ministro pode ter amigos mentirosos e ladrões, eu também posso; se o Paulo Pimenta pode passear no carro do Marcos Valério, eu também posso dar uma voltinha, não é?
Não.
Não é.
Vai ser difícil a gente consertar esse gigantesco estrago. Mas vamos ter que tentar. Se não em nome do país, que seja em nome de nossos filhos, para que eles nos vejam com “dente” ainda na boca, para que não tenham vontade de nos dar uma tunda de laço por termos mentido e apenas apontado para alguém ao lado e dito:
- Foi ele!
Nossos antepassados nos diziam sempre que “quem mente perde os dente” (eles deixavam de lado a concordância para bem da rima). Outros preferiam medidas mais drásticas: aplicavam castigos, chineladas ou verdadeiras sumantas, quando não ruidosas e doloridas tundas em caso de mentira descoberta (é a primeira vez que escrevo “sumanta” e “tunda”).
Mentir é sempre um ato associado a outro, geralmente contravencional, ilícito ou até mesmo, em alguns casos, criminoso. Quando o sujeito deflagra uma mentira, ela está sempre acompanhada de um ato passado ou futuro que a consagra e, não raramente, a revela. O dito que a mentira tem perna curta é muito verdadeiro porque mentir está ligado a algo irreal, que não se sustenta nem convence de modo permanente no tempo e no espaço.
Uma criança que mente ao delatar o irmão, tendo-o feito por algo pelo qual ele é o verdadeiro responsável, leva à associação imediata aos atos decorrentes, seja a simples quebra de um vaso, o sumiço de um dinheiro guardado ou de um mero puxão no rabo do gato. “Foi ele”, denuncia com os cantos da boca sujos o pequeno e desavisado pinóquio, ao imputar ao irmão de apenas 9 meses a culpa pelo desaparecimento de uma barra de chocolate inteira, que estava muito longe do alcance do suposto autor do delito, que nem caminhar ainda sabe.
O tempo passa e os sujeitos continuam mentindo. Mentindo para suas esposas, seus maridos, seus sócios, seus eleitores. Com o tempo, entretanto e tristemente, as coisas vão perdendo a inocência e a graça. E o que é pior: com a instituição da mentira como fato corriqueiro e natural, a sociedade corre riscos que não tem idéia de sua gravidade.
Mentir, roubar, voltar a mentir, voltar a roubar, é uma síntese que hoje assola o topo da pirâmide social, que é representada e protagonizada pelas lideranças públicas que ocupam as páginas de jornais e revistas, de telejornais e correspondentes radiofônicos.
O mensalão é o maior exemplo dessa síntese: Compra-se um voto mentiroso para se votar favoravelmente uma medida provisória; vende-se um voto mentiroso hoje, outro amanhã, outro depois. Em seguida, compra-se um “lote” de mentirosos e mais votos mentirosos por um valor mais em conta e a dança prossegue, na cadência da mentira, no ritmo da malandragem, à luz de um cabaré desavergonhado que se tornou o poder no Brasil.
Acha ruim? Então imagine agora o seguinte: a mentira, dita pelo topo, autoriza, morro abaixo, outras mentiras e mentirosos, que “justificam” outras mentiras e mentirosos e assim por diante, rumo à base, neste caso, rumo à toda a população de um país.
Se o ministro mente, mente e mente, então eu também posso mentir. Se o presidente absolve seus companheiros safados porque “errar é humano”, então certamente todos os demais ladrões do país estão desculpados por seus mesmos erros humanos.
A partir daí começamos a entender porque o preço do álcool sobe, por exemplo. Porque o poder que tem que negociar com os usineiros é o mesmo envolvido em dezenas de escândalos quase ou totalmente comprovados diante da opinião pública nacional e até mesmo internacional. O usineiro aumenta o preço do álcool porque o governo não tem nenhuma moral para fazer com que se mantenham os contratos ou acordos anteriores. Afinal, se eles mentem e roubam e ficam onde estão, porque eu não vou aumentar os meus preços?
Fica mais fácil entender a disseminação da corrupção no Brasil. O PT transformou a corrupção em uma chinelagem sem precedentes. Todos estão autorizados a roubar e a mentir no país. Se o filho do presidente pode faturar R$ 15 milhões de uma empresa cujo maior acionista é o estado, então o meu filho também pode; se o amigo do presidente pode pagar suas dívidas, então amigos meus também podem pagar as minhas; se o ministro pode ter amigos mentirosos e ladrões, eu também posso; se o Paulo Pimenta pode passear no carro do Marcos Valério, eu também posso dar uma voltinha, não é?
Não.
Não é.
Vai ser difícil a gente consertar esse gigantesco estrago. Mas vamos ter que tentar. Se não em nome do país, que seja em nome de nossos filhos, para que eles nos vejam com “dente” ainda na boca, para que não tenham vontade de nos dar uma tunda de laço por termos mentido e apenas apontado para alguém ao lado e dito:
- Foi ele!
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